quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O Anexo - (Par Melão, Grelos e Mendes)

São de facto lindíssimas gazelas, essas que por lá param. Verdadeiro Panthéon artístico, cultural e social, o anexo é um espaço que já tem albergado aquilo que são, de facto, lindíssimas gazelas.

Gazelas brancas, pretas, orientais, siamesas e afins, todas encetam em si uma característica comum, apesar das (óbvias) diferenças: são de facto lindíssimas, lindíssimas gazelas.

Sito numa das mais belas e bem freqüentadas artérias da nossa mui nobre e leal urbe, este espaço, qual padre António Vieira, conhece as mais insólitas e macabras Estórias que há para contar, amiúde dotadas da mais ordinária (porém salubre) lascívia.

Gazelas selando sua amizade com húmidos ósculos na boca, fronte, e outros territórios, gazelas bebendo pela garrafa, gazelas lindas, lindíssimas -leia-se lindíssimas- fazendo a sua sesta às 3 da manhã depois de uma repousante garrafa de Uísque, com outras gazelas utilizando-as como apendicular suporte de uma aula prática de ginecologia (algo a que aspiram vir a cursar um dia, uma vez completo o politécnico). Gazelas (de facto lindíssimas)-leia-se lindíssimas - devolvendo sua custosa digestão aos esgotos desta mui nobre e leal urbe (sim, porque o sêmen humano, como é sabido, actua como um retardante da bílis e é pró-(h)e(r)mético). Gazelas que, providas do mais comovedor sentido de solidariedade, passeiam nos seus esculturais corpos as mais onerosas peças de Haute cotture, sem nada exigirem em troca pela tão louvável e gratuita publicidade. Gazelas essas que, apesar da nobreza do sangue que plácida e secularmente circula nas suas castas veias, anseiam avidamente, agora e sempre, pelo suco divino.

Muitas, amiúde erroneamente, procuram esse mesmo suco no mais sórdido e esquizofrênico dos órgãos humanos: isso mesmo, o Penduricalhum.

Gazelas que, saltando por entre prados da mais imaculada virgindade, tolhendo atiçadamente a feno, urze brava e tomilho, assim exclamam, quando a nostalgia por fim as atinge, impiedosa: “Ó anexo, ó anexo”!

Par Mendes, Grelos e Melão acair da tripeça - 24/05/2005

As já mencionadas gazelas do anexo anterior, detentoras da mais adoniana das belezas, Afrodites do mais elevado quilate, continuam, pululando de felicidade, pastando neste inefável repasto, ao que ouvi dizer das mais fidedignas e aristocráticas fontes. Gazelas essas que, apesar da eterna e vitalíssima juventude (e nunca desistindo dessa infindável e homérica busca do mais inatingível dos néctares), assistindo ao amputar de seus tão sonhados casamentos, ao termo de um efémero mês, como bom filho, a sua casa tornam, obedecendo ao chamamento que de seus castos subconscientes nunca chegou a sair: “Ó anexo, ó anexo”. E assim, qual gazelas que se submetem ao assobio de seu gnu, o fazem sem um único pestanejo. Ali encontram o belo quadro que suas memórias de virgem nunca chegaram a olvidar...

O Anexo - Vários

Essas lindíssimas gazelas, de pêlo sedoso e exaustivamente pantenificado, abundam e espalham sua graciosidade, como já foi referido, nesse convidativo e reconfortante espaço a que usa chamar-se de Anexo. Este, para além de um salão apetrechado de lúbricos e escorregadios sofás, uma charmosa lareira (onde já soçobraram as mais exóticas lenhas e os mais voláteis afrodisíacos), curvilíneos candelabros art nouveau e uma heráldica e veneranda mesa de pau preto, cuja talha remonta aos longínquos tempos do barroco português (e onde, ao que se sabe, reúne e conspira essa tão propalada Irmandade Hedónica), é ladeado, a poente, por um fértil e pitoresco jardim, onde duas frondosas e seculares árvores decidiram lançar raiz (e com certeza não por acaso pois este profícuo solo, coberto pelo mais fecundo dos húmus, é composto, entre outros, por nutrientes como o lúpulo, o já mencionado néctar - exalando fertilidade -, pródigas sobras de uísque e metabolitos das mais nobres e perfumadas urinas); todas as noites, um silencioso luar estende generosamente a luminosidade por este fermoso jardim, cobrindo-o de prateados reflexos e comprometedores esconderijos, e serve de cenário à semanal adoração de Dionísio...

Este majestoso edifício, construído entre 1840 e 1844 como prova de gratidão da abastada família de D. Carlos Pynto de Barboza, marquês de Montevideu, para com os seus servis caseiros, é um dos mais belos exemplares da arquitectura neoclássica em Portugal; anexo ao palacete da Boa Vista, é também habitado por dois ferozes e temerários animais (a quem um ilustre e assíduo frequentador, embora padecendo de uma incurável neurose fóbica, certa vez se referiu como “essas horríficas bestas”) que, quais pilares de Hércules (Zeus?) lançando seus vigilantes e perspicazes olhares sobre as tépidas águas desse terno mar mediterrâneo, guardam voluntariamente este prenhe lago de lascívia. Um, o da áurea penugem, ao mesmo tempo que abana jovialmente a cauda para saudar os fiéis convivas, arreganha a beiça carnuda e crava o ebúrneo canino em todos aqueles que ousam, sem autorização, transpor as portas da felicidade; o outro, o da lúgubre cor,...


Ao darem a conhecer à comunidade intelectual o resultado das suas iracundas reflexões, este trio de escritores, dotado de uma aquilina e penetrante agudeza de espírito, abalou toda a frágil estrutura da sociedade portuguesa (já há muito minada interiormente por essa insaciável e carunchosa perdição: o Capital), e fizeram ruir os caducos e decrépitos pilares em que esta relaxadamente preguiçava e firmemente julgava assentar. Das cinzas, ergueu-se o mais perfeito Caos. Era agora possível começar tudo de novo...

Mendes - 26/05/2001

Era agora possível começar tudo de novo. Qual frescor de uma precoce primavera, qual sol quente que madruga em dia de inverno, foi como o escancarar de uma janela no bafio de um quarto escuro. Para trás ficava a inércia das mentes e a clausura dos espíritos. Adeus, ó vil ditadura das sensibilidades!
Adiante, só o néctar redentor, providente panaceia. Mas, pairando qual felino que se aninha expectante, erguia-se o monstro. Sim, esse veneno letal que corrompe até o mais precavido dos espíritos. Nefasta ave rapinava então esses céus, aos quais esses estóicos trovadores haviam devolvido a luz. Por se tratar de uma arte facilmente imitável na forma (nunca na matéria, mas isso é algo que só a mais acutizada das mentes poderá distrinçar), rapidamente as lapas se vieram instalar comodamente à sombra de confortável abrigo. Tornara-se moda. Adiante, o estonteante fumo da confusão.
Como separar o trigo do joio, aquele que embeleza o nada daquele que nada embeleza?
Padeceria o enfermo da própria cura?

Grelos - 26/05/2001

Contra-capa:

Depois de mais de um século de domínio capitalista, aparece como primeira alternativa a uma estrutura degradada e corrupta esta nova corrente que assenta em princípios ideológicos, filosóficos e espirituais como o epicurismo, o estoicismo, a fraternidade, a igualdade (“Fode-se um, fodem-se todos”, Mendes) e a omnipresença do metafísico. Inicialmente conotados com movimentos como o anarco-teológico – depois de Melão ter pública e manifestamente considerado Tolstoy como “o Pai da perfeição” -, o niilismo ou até o mais tradicional Marxismo-Leninismo (Grelos foi visto na Av. Brasil a ler “O Capital”), Mendes, Melão e Grelos vieram mais tarde a contrariar tudo e todos ao fundar esta “nova via” mais conhecida como o anexismo. Crentes na falibilidade do ser humano, renegam todo o tipo de autoridade e acreditam na intemporalidade e imutabilidade de todos os conceitos que derivam de um “estado natural e genuíno do ser humano”.
Com este “anexo 4.1 SE, o retorno do helenismo” , uma óbvia crítica a alguns grupos monopolistas que visam a desumanização das sociedades modernas, estes três outrora “promissores talentos”, agora exilados em Cuzco, pretendem a divulgação e consolidação da sua obra.

“(...) gazelas metamorfoseando-se, transcendendo a planos de amores libidinosos, suspirando pelo Uno, e, ao libertarem-se do anátema da pureza, gritando: “Ó anexo, ó anexo!” ”

Melão - 25/05/2001

Caros camaradas:
Saudações hedónicas.
(Espero que esta vos encontre de bons fígados)
Hoje, uma maçadora aula teórica de obstetrícia teve o condão de despertar a minha humilde e há muito seca pena, fazendo por ela jorrar laivos desse novo e inquietante estilo de narrar que tem como principal objectivo "o embelezamento do Nada". Obedecendo sem hesitar ao aceno da generosa Musa que hoje, tenho a certeza, se serviu das hemorragias pós-parto para fazer sua gloriosa aparição, rapidamente mergulhei o aparo e, com o pensamento conspurcado por abortamentos induzidos e partos pré-termo, soltei as falanges...

Eis o suculento fruto desta (afinal) profícua aula.

Saboreiem-no.
Afectuosamente vos abraço,

O vosso
Melão

Mendes - 22/05/2001

O anexo, obra que vem confirmar o talento de um grupo de jovens escritores, fala de míticas e lindíssimas - leia-se lindíssimas – gazelas perdidas por entre as brumas dos tempos, de uma Shangri-Lá ocidental, Avalon Portuguesa, de um paraíso esquecido.
Com capítulos de feitos quiméricos e amores lascivos, este é um livro de paixões, ódio e sentimentos contraditórios.

Estes promissores talentos fazem parte de uma emergente geração de jovens intelectuais que fazem da sua escrita aquilo que os especialistas vem apelidando de “o embelezamento do nada” (Público),a “estilização do Vazio” (Expresso), ou o “emoldurar da tela em branco” (Revista d´O Independente). Ovacionados pela critíca, pelo público e pelos seus pares, mas nunca cedendo a qualquer tipo de pressões que “bloqueiem as portas da mente” (Melão), “Interfiram no meu peculiar – leia-se peculiar- modo de escrita” (Grelos) ou “fodam o meu bestunto” (Mendes), estes talentosos romancistas dão que falar.
Melão completou os seus estudos no CEBES, e espera um dia vir a cursar Engenharia Dentária; Grelos é filho de um talentoso veterinário e Mendes já instalou a última versão do WORD no seu computador portátil e teve explicações de Português. Um notável percurso que, contra ventos e marés, raios e coriscos, correntezas e vendavais, colocou estes notáveis “poetas da prosa” (Segundo Pedro Paixão, designação com a qual Jacinto Lucas Pires concorda) no Top de vendas do Sapo Online (O Anexo até já foi tema de um mini-forum do Curto Circuito, da Sic Radical).
Nascidos na Foz, viveram toda a sua vida na Foz e vivem actualmente na Foz. Talvez essa vivência os tenha dotado de uma abrangência temática e uma compreensão humana notáveis, pelo que versam à vontade sobre assuntos tão vastos como “A Gazela” ou ... tantas outras coisas. O seu enquadramento espacio-temporal vai desde 1990 a 2000 e desde a rotunda do castelo do queijo ao passeio alegre. De facto notável a versatilidade destes jovens autores. “Uma genialidade quasi-esquizofrénica”, diz Pepetelo.
Já na forja encontra-se um romance, que apesar de totalmente distinto, promete não desiludir: “O anexo linha”. Ainda em fase muito embriónica (A modos que no prelo), vão juntando apontamentos para “O anexo 2”, a sequela que promete vir a ser uma surpresa: “trata de gazelas e passa-se em nevogilde”, adianta melão.
Ficamos assim a aguardar novas propostas destes inovadores artistas, que tanto nos têm enriquecido com suas preciosas aguarelas.

Grelos - 13/05/2001

O anexo, obra que vem confirmar o talento de um grupo de jovens escritores, fala de míticas e lindíssimas -leia-se lindíssimas - gazelas perdidas por entre as brumas dos tempos, de uma Shangri-Lá ocidental, Avalon Portuguesa, de um paraíso esquecido. Com capítulos de feitos quiméricos e amores lascivos, este é um livro de paixões, ódio e sentimentos contraditórios. Nascidos entre 1976 e 1980, estes promissores talentos fazem parte de uma emergente geração de boémios e lideres.